Estratégias e metodologias de ensino para estudantes com DI
- Suellen Cruz
- 12 de ago. de 2024
- 9 min de leitura
Atualizado: 4 de set. de 2024

Fonte: Acervo Wix.
O uso de estratégias e metodologias de ensino contribuem para a execução de aulas interativas, pois o professor deve buscar o envolvimento de todos os alunos da sua classe. A diversificação das formas de ensinar e aprender tornam o processo mais inclusivo e humano. Em contextos apenas de aulas tradicionais, todos os dias, há a limitação das intervenções educacionais e consequentemente dificultam a aprendizagem (Mendonça; Silva, 2015).
A inovação das aulas agregam valor ao processo de ensino e aprendizagem e as atividades propostas como estratégias diferenciadas devem ter como base a noção de compensação, a qual é capaz de criar uma energia psicológica para combater a dificuldade. Vale ressaltar também a importância de considerar a vida social coletiva do aluno, que segundo Vigotski (1989), é uma fonte em que a criança com alguma deficiência encontra os recursos necessários para a formação das funções internas que irão desencadear o seu processo de desenvolvimento compensatório para que ocorra a aprendizagem.
Tipos de estratégias de ensino
Atividades em sala de aula
Segundo Toledo e Vitaliano (2012) os alunos com DI devem desenvolver:
Trabalhos em grupo;
Uso de materiais diversificados;
Grupos de trabalho compostos por alunos com diferentes níveis de competência, para que os mais adiantados sejam mediadores dos demais;
Apresentação de conteúdos de forma visual e auditiva;
Sistema de tutoria, em que os alunos adiantados ajudam os colegas com dificuldade; atividades colaborativas, uso de jogos que desenvolve a socialização, cognição e senso moral.
Essas estratégias precisam ser planejadas para que não haja improvisação, visto que essa ação pode comprometer o resultado esperado com a estratégia (Toledo; Vitaliano, 2012).
Atividades em espaços diferenciados na escola
As estratégias de ensino, segundo Santos e Martins (2015), podem ser aplicadas fora de sala de aula, como:
Idas à biblioteca com vivência de contação de histórias ou a utilização de recursos visuais atrativos;
Exploração dos trabalhos em grupo, em outros espaços, de forma bem conduzida, favorecem as trocas de experiência e o desenvolvimento da cooperação.
Atividades com materiais reciclados
Froehlich (2020) também sugere a cooperação em sala de aula, por meio de:
Construção de jogos,
Fabricação de brinquedos;
Produção de instrumentos musicais com materiais recicláveis e sucatas.
Essas estratégias precisam se alinhar aos conteúdos para que façam sentido na aprendizagem.
Atividades com utilização da tecnologia digital
De acordo com Colpani e Homem (2016), Carvalho, Cruz e Cunha (2019) e Silva (2022), as estratégias atuais que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem são:
O uso da gamificação na área da educação;
Jogos em app;
Utilização de realidade aumentada.
Atividades com metodologias ativas
Segundo Silva (2022), as Metodologias Ativas de Aprendizagem (MAA) ocupam espaços de discussões no contexto educacional ao se referir a uma aprendizagem com foco no protagonismo do aluno e na aquisição do conhecimento. Para isso, sugere a utilização das MAA:
Problem-Based Learning (PBL) ou Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP);
Aprendizagem baseadas em projetos (ABP);
Sala de aula invertida.
Recursos para apresentação de conteúdos ao aluno com DI e acompanhamento da aprendizagem
A utilização de recursos durante as aulas para alunos com DI facilita a aprendizagem. Abaixo, há alguns recursos digitais que podem ser utilizados durantes as aulas.
Quadro 1 - Possibilidades de jogos digitais educacionais
CARACTERIZAÇÃO DOS JOGOS |
ESCUTE BEM |
Descrição: O jogo permite identificar a escrita da palavra a partir da sonoridade. As crianças marcam a resposta correta conforme solicitado. |
Objetivo: Fazer a correspondência entre fonema ao grafema e identificar a escrita correta. |
Expectativas de aprendizagem: Desenvolver a atenção, a participação e autonomia, como também, resolução de problemas, como também estimular aprendizagem o sentido da adição. |
Link de acesso https://www.tinytap.com/activities/g29ig/play/escute-bem |
CORAL DE JURUBEBAS (RIMANDO COM PALAVRAS) – TV ESCOLA |
Descrição Jogo divertido com o Coral dos Jurubebas, personagens coloridos que contam uma animada música. O jogo permite às crianças aprenderem a ouvir atentamente a letra da música e associar a rima à palavra escrita. |
Objetivo: Ouvir com atenção e associar à palavra que melhor combina com a música do Coral. |
Expectativas de aprendizagem: Desenvolver a autonomia, explorar ideias sobre como se lê, de adquirindo habilidades de leitura. |
Link de acesso: http://hotsite.tvescola.org.br/jurubebas//jogos/06/ |
DE QUEM É ESSE NOME |
Descrição: O jogo de palavras, que envolve o nome de pessoas em forma de ficha, a partir da pergunta feita sobre qual o nome, a criança deve ler as fichas e clicar em cima da resposta correta. |
Objetivos: Estimular a escrita, por meio da leitura de diversas palavras por meio da ludicidade do jogo. |
Expectativas de aprendizagem: Reconhecer nomes de pessoas, realizar a leitura de palavras, desenvolver a motricidade fina e autonomia. |
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE HISTÓRIAS E CONTOS DE FADAS |
Descrição: O jogador deverá ficar atendo a pergunta realizada sobre os objetos que os personagens dos contos de fada utilizam e responder clicando na resposta correta. |
Objetivo: Resgatar os personagens dos contos infantis, a partir do objeto que eles utilizam. |
Expectativas: Despertar a imaginação, criatividade, autonomia de aprendizagem. |
Link de acesso: https://www.tinytap.com/activities/geck/play/hist%C3%B3ri as-1 |
CORAL DOS JURUBEBAS |
Descrição: O jogo musicado, desenvolvendo a compreensão de rimas de maneira divertida. |
Objetivo: Identificar as palavras que rimam com a canção. |
Expectativas de aprendizagem: Desenvolver habilidades linguísticas sonoras. Aumentar a consciência fonológica entre fonemas e grafemas. |
Link de acesso: http://hotsite.tvescola.org.br/jurubebas//jogos/02/ |
ORDENANDO AS PALAVRAS |
Descrição |
Objetivo: Organizar frases a partir de uma imagem referência. |
Expectativas de aprendizagem: Ordenar palavras, formando frases. Reconhecer possibilidades diferentes para ordenar uma aprendizagem mesma frase. Desenvolver habilidades para produzir estruturas frasais. |
Link para acesso: https://www.tinytap.com/activities/g2axe/play/ordenandopalavras |
Fonte: Santos (2017) adaptado por Silva (2022).
Quadro 2 - Possibilidades de software educacional
CARACTERIZAÇÃO DO SOFTWARE |
SCRATCH |
Descrição: O Scratch é um software que se utiliza de blocos lógicos, com itens de som e imagem para desenvolver histórias interativas, jogos e animações, uma vez que criado algum conteúdo o mesmo pode ser compartilhado de forma online. |
Objetivo: Construir histórias, jogos e animais interativas. |
Expectativas de aprendizagem: Desenvolver a autonomia, resolução de problemas. |
Link para acesso: https://scratch.mit.edu/ |
Fonte: Takinami et al. (2019) adaptado por Silva (2022).
Quadro 3 - Sugestões de jogos e softwares educacionais
CARACTERIZAÇÃO DOS SOFTWARES E JOGOS |
GRAFOGAME |
Descrição: O lançamento do GraphoGame no Brasil é uma ação do Ministério da Educação, no âmbito da Política Nacional de Alfabetização e do programa Tempo de Aprender e em colaboração com cientistas brasileiros. |
Objetivo: Ajudar às crianças que estão na pré-escola ou nos anos iniciais do ensino fundamental a aprender a ler e a soletrar suas primeiras letras, sílabas e palavras, com sons e instruções do português brasileiro. O jogo é especialmente eficaz para crianças que estão aprendendo as relações entre letras e sons. Tudo isso sem anúncios e totalmente offline. |
Expectativas de aprendizagem: Autonomia; engajamento; compreensão de grafema e de fonema e desenvolvimento da leitura. |
Link para acesso: https://apps.apple.com/br/app/graphogamebrasil/id1540637587 |
ESCOLA GAMES |
Descrição: É um site gratuito de jogos educativos, são desenvolvidos em acompanhamento pedagógico para que as crianças aprendam brincando com faixa etária a partir de 5 anos. |
Objetivo: Desenvolver aprendizagem e o engajamento dos alunos por meio da brincadeira nas diversas áreas de aprendizagem. |
Expectativas de aprendizagem: Autonomia; resolução de problemas; engajamento, criatividade, coordenação motora. |
Link para acesso: https://www.escolagames.com.br/ |
JOGOS EDUCATIVOS - BRINCANDO COM ARIÊ |
Descrição: É um site gratuito com jogos educativos projetados para crianças. Ensina de forma lúdica e a criança aprende brincando, as diversas áreas de conhecimento, principalmente a voltada a alfabetização. |
Objetivo: Desenvolver a aprendizagem por meio da ludicidade. |
Expectativas de Aprendizagem: Autonomia, resolução de problemas; engajamento, motivação, coordenação motora e criatividade. |
Link para acesso: https://brincandocomarie.com.br/jogos/ |
JAMBOARD |
Descrição: O Jamboard é um quadro interativo gratuito e online, que faz parte das ferramentas do Google. Nele, pode-se criar aulas interativas, compartilhá-lo com os alunos, por meio do Google Meet (é um serviço de comunicação por vídeo desenvolvido pelo Google), permitindo que os alunos visualizem ou editem as atividades propostas por meio do compartilhamento do link durante as aulas.
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Objetivo: Criar atividades diferenciadas lúdicas e criativas. Em forma de brincadeira, é possível promover a capacidade de percepção, como também estimular a coordenação motora fina da criança, utilizando ferramentas para o desenho que estão incorporadas no próprio Jamboard.
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Expectativas de aprendizagem: Autonomia, resolução de problemas, participação instantânea, engajamento, criatividade, pensamento crítico.
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CANVA FOR EDUCATION |
Descrição: É uma ferramenta gratuita ofertada para todos os professores da educação básica. Nele estão disponíveis milhões de imagens, fontes, elementos gráficos, vídeos, animações e templates que podem auxiliar na construção de aulas diferenciadas. |
Objetivo: Construir atividades diferenciadas e dinâmicas utilizando recursos tecnológicos por meio da tecnologia Canva. |
Expectativas de aprendizagem: Autonomia, resolução de problemas, participação, engajamento, criatividade e o pensamento crítico.
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Link para acesso: https://www.canva.com/learn/education/ |
Fonte: Silva (2022).
Comunicação e o aluno com DI
Bashiyo (2019) acredita que não basta somente organizar o ambiente de aprendizagem se a qualidade de interação entre alunos e professor não for garantida. É importante relacionar momentos de interação quando se pretende planejar a aprendizagem.
A comunicação com o aluno com DI deve ser estimulada, tanto no sentido professor x aluno e aluno x aluno, pois Luria (1987) afirma que a interação humana é a impulsionadora da construção do significado e a linguagem é responsável em regular e mediar as atividades psíquicas.
Uma das caracterizadas da DI é a limitação no uso dos recursos cognitivos e ao menos duas habilidades da vida diária, como: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, saúde, segurança, desempenho escolar, trabalho, desempenho na família e na comunidade, independência e lazer (Fujihira, 2012).
As crianças com DI apresentam prejuízos relacionados a comunicação, uma parte das quais aprendem a falar, produzem apenas frases curtas e simples. Nesse sentido, a ausência de desenvolvimento na linguagem consequentemente gera obstáculos para a interação da criança. Isso decorre da dificuldade que as pessoas têm em compreender a comunicação de pessoas com DI e, muitas vezes, não se esforçam para dialogar. Como resultado, diminuem as chances da criança se envolver em interações e impede seu progresso na linguagem (Santos, 2012).
Cavalcante (2017), afirma que a comunicação pode contribuir com a aprendizagem. Para tal, deve se considerar as possibilidades de comunicação, como:
Verbalizações: refere-se a construções de frases verticais (um só elemento) ou construções horizontais (mais de um elemento);
Gestos representativos: são responsáveis por sinalizar a comunicação - podem ser formados por apontar, olhar, expressão facial, dentre outros, bem como pelo auxílio de símbolos gráficos.
Segundo Vygotski (1997) é necessário entender que cada criança se desenvolve de maneira única, seja com ou sem deficiência. As leis de desenvolvimento são iguais para cada pessoa, mas os caminhos para o desenvolvimento são diferentes. Dessa forma, deve-se olhar para a pessoa com DI para aquilo que se tem em potencial.
Referências bibliográficas:
BASHIYO, Fabiana Mieko do Nascimento. Formação de professores: qualificação para atender crianças com deficiência intelectual. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 15, n. 1, p. 38-45, jun. 2019 2526-3471. ISSN 1517-7947. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v15i1.12769. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/tes/article/view/12769/8356. Acesso em: 8 jun. 2024.
CARVALHO, Carolina da Costa; CRUZ, José Anderson Santos; CUNHA, Ariele Kizzy. O uso de softwares educativos no processo de ensino e aprendizagem de alunos com deficiência intelectual. Revista Científica do UBM, v. 21, n. 40, p. 118-150, 5 jan. 2019. Disponível em: https://revista.ubm.br/index.php/revistacientifica/article/view/939. Acesso em: 02 jul. 2024.
CAVALCANTE, Tícia Cassiany Ferro. Dialogismo e impedimentos cognitivos: reflexões sobre a comunicação entre adulto e estudantes com deficiência intelectual. Rev. educ. PUC-Camp., Campinas, 22(3):425-439, set./dez., 2017. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/reveducacao/article/view/3831. Acesso em: 04 jun. 2024.
COLPANI, Rogério; HOMEM, Murillo Rodrigo Petrucelli. Realidade Aumentada e Gamificação na Educação: uma aplicação para auxiliar no processo de aprendizagem de alunos com deficiência intelectual. Revista Brasileira de Informática na Educação, Porto Alegre, v. 24, n. 1, p. 83-101, 2016. DOI: https://doi.org/10.5753/RBIE.2016.24.01.83. Disponível em: http://milanesa.ime.usp.br/rbie/index.php/rbie/article/view/3347. Acesso em: 5 jun. 2024.
FROEHLICH, Juliana Lopes. Práticas pedagógicas de professores de ciências e matemática no atendimento de alunos com deficiência intelectual em escolas estaduais no interior do Rio Grande do Sul. 2020. 112 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação em Ciências e Matemática, Programa de Pós Graduação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020. Disponível em: https://hdl.handle.net/10923/16698. Acesso em: 26 jun. 2024.
FUJIHIRA, Carolina Yuki (Org.) Mude seu falar que eu mudo o meu ouvir: Acessibilidade: Um livro escrito por pessoas como Síndrome de Down. Associação Carpe Diem. São Paulo: Associação Carpe Diem, 2012.
LURIA, Alexander Romanovich. Pensamento e linguagem: as últimas conferencias de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
MENDONÇA, Fabiana Luzia de Rezende; SILVA, Daniele Nunes Henrique. A formação docente no contexto da inclusão: para uma nova metodologia. Cadernos de Pesquisa, [S.L.], v. 45, n. 157, p. 508-526, set. 2015. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/198053143274. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cp/a/mGYtNh3BmPYLMvqJq6BWCtw/abstract/?lang=pt. Acesso em: 08 dez. 2023.
SANTOS, Klécia Figueiredo dos. Metodologias ativas: um estudo sobre as metodologias utilizadas por professores das escolas municipais da cidade de Jardim do Seridó-RN. Caicó, RN. Monografia (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/37789. Acesso em: 12 jun. 2024.
SANTOS, Teresa Cristina Coelho dos; MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. Práticas de Professores Frente ao Aluno com Deficiência Intelectual em Classe Regular. Revista Brasileira de Educação Especial, [S.L.], v. 21, n. 3, p. 395-408, set. 2015. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/s1413-65382115000300006. Acesso em: 15 jun. 2024.
TAKINAMI, Olga K.; SILVA, Ronald Brasil; SALES, Selma Bessa. Contribuições do Software Scratch para Aprendizagem de Crianças com Deficiência Intelectual. VIII Congresso Brasileiro de Informática na Educação (CBIE 2019). Disponível em: https://sol.sbc.org.br/index.php/wie/article/view/13187/13040. Acesso em: 20 mar. 2024.
TOLEDO, Elizabete Humai de; VITALIANO, Célia Regina. Formação de professores por meio de pesquisa colaborativa com vistas à inclusão de alunos com deficiência intelectual. Revista Brasileira de Educação Especial, Londrina, v. 18, n. 2, p. 319-336, 0jun. 2012 1980-5470. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-65382012000200010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-6538&lng=en. Acesso em: 10 jul. 2024.
VYGOTSKY, Lev Semionovitch. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3317710/mod_resource/content/2/A%20formacao%20social%20da%20mente.pdf. Acesso em: 12 jun. 2024.
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